Eclipse Moral
Recentemente colocaram um filósofo "no paredão", como exemplo do que não deve ser dito sobre a pena de morte, sobre a barbárie de um crime hediondo praticado contra uma criança arrastada pelas ruas no furto de um carro. E fica a pergunta: "Quem é humano?". Diante da indigna-ação o filosofo se indignou e soltou o verbo. Os colegas de academia tentaram, bem timidamente, acudir em sua defesa. Os franco-atiradores na midia impressa correram como cães na busca do osso suculento. Perdemos todos, pois nos achamos humanos-o-suficiente para condenar o destempero dos academicos e preferimos contemporizar com o espetaculo da dor alheia, deixando de lado a chance de fazer a crítica urgente e necessaria ao esse modo barbaro-e-"racional" de justificar tudo e cinicamente aceitar o inaceitavel.
O filosofo não aceitou desta vez o inaceitavel. Eis uma atitude ainda-humana...destaco abaixo algumas frases de seu manifesto publicado nos jornais, onde saliento a busca dos elementos (vestigios) humanos no meio dessa insuportavel cena de barbarie que nos causa um eclipse moral, uma penumbra onde nossos sentimentos de amor e solidariedade são deixados no escuro, para sermos mantidos cativos no terror da possibilidade de não serem jamais possiveis.
Com a palavra o filosofo, em seu sofrimento ainda-humano:
“Penso --porque ainda consigo pensar, em meio a esse turbilhão de sentimentos...”
“Parecem irrecuperáveis, e seu crime é hediondo. Não vejo diferença entre eles e os nazistas...”
“É-se humano somente por se nascer com certas características? Ou a humanidade se constrói, se conquista -e também se perde?”
“Isto, que relato, põe em questão meu próprio papel como intelectual...Intelectual não é apenas quem tem uma certa cultura a mais do que alguns outros. É quem assina idéias, quem responde por elas”
“O intelectual é público. Só que, para ele cumprir seu papel público, é preciso acreditar no que diz.”
“Quantos não foram os marxistas que se calaram sobre os campos de concentração, que eles sabiam existir? Por isso, o mínimo que devo fazer, se sou instado a opinar, é dizer o que realmente penso (ou, então, calar-me).”
“Não consigo, do horror que sinto, deduzir políticas públicas, embora isso fosse desejável.”
“Se o que sinto e o que digo discordam em demasia, será preciso aproximá-los...Será preciso criticar os sentimentos pela razão --e a razão pelos sentimentos, que no fundo são o que sustenta os valores. Valores não são provados racionalmente, são gerados de outra forma”
“Dizem uns que o Brasil está como o Iraque. Parece, pior que isso, que temos algumas mini-auschwitzes espalhadas pelo território nacional.”
“Penso --porque ainda consigo pensar, em meio a esse turbilhão de sentimentos...”
“Parecem irrecuperáveis, e seu crime é hediondo. Não vejo diferença entre eles e os nazistas...”
“É-se humano somente por se nascer com certas características? Ou a humanidade se constrói, se conquista -e também se perde?”
“Isto, que relato, põe em questão meu próprio papel como intelectual...Intelectual não é apenas quem tem uma certa cultura a mais do que alguns outros. É quem assina idéias, quem responde por elas”
“O intelectual é público. Só que, para ele cumprir seu papel público, é preciso acreditar no que diz.”
“Quantos não foram os marxistas que se calaram sobre os campos de concentração, que eles sabiam existir? Por isso, o mínimo que devo fazer, se sou instado a opinar, é dizer o que realmente penso (ou, então, calar-me).”
“Não consigo, do horror que sinto, deduzir políticas públicas, embora isso fosse desejável.”
“Se o que sinto e o que digo discordam em demasia, será preciso aproximá-los...Será preciso criticar os sentimentos pela razão --e a razão pelos sentimentos, que no fundo são o que sustenta os valores. Valores não são provados racionalmente, são gerados de outra forma”
“Dizem uns que o Brasil está como o Iraque. Parece, pior que isso, que temos algumas mini-auschwitzes espalhadas pelo território nacional.”
Após o linchamento "puritano" dos moralistas indignados com a indignaçao "não racional" do filosofo, em entrevista no Observatorio da Imprensa ele ainda se "defende" por ter demonstrado humanamente essa sua indignação (os grifos abaixo são meus):
"O que me impressiona é, primeiro, esse deslocamento das questões. Nós deveríamos estar concentrados nessa questão da dor extrema, da desumanização ou de como resolver isso. Deveríamos também tentar pensar que o mais importante é o assunto que está sendo discutido. Nós não temos essa tradição, nem na academia nem no jornalismo. Na academia, geralmente, ou concordamos, já que assim fica tudo bem, ou discordamos e vira uma briga, o que não tem que ser. Acho que não existe coisa melhor do que discordar de alguém, essa pessoa contra-argumentar, gerar um belo debate, eventualmente um mudar de idéia, ou o outro, ou os dois. Isso está fazendo falta."
Se nem um eminente filosofo pode ser indignar, quem poderia? Imaginem se Jesus, Sidarta Gautama e outros "famosos indignados" resolvessem dar as caras pelo planeta nesses dias o que não aconteceria? Seriam, na melhor das hipoteses, lideres espirituais bem sucedidos como palestrantes e vendedores de best-sellers.
A espécie humana tem se superado na mediocridade e na capacidade de desafiar a lei de evolução das espécies. Será a primeira a se condenar a extinção, pelo uso unico e exclusivo de seu livre-arbitrio.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home