Vestigios da Humanidade

Este blog é um convite a reflexão sobre a humanidade, seus vestigios, numa arquelogia viva que busca encontrar o que resta ainda da raça humana, cada vez mais robotizada, dotada de uma razão instrumental e redundante, não essencial, restrita ao mero papel de espectadora do espetaculo que protagoniza.

sábado, abril 28, 2007

Tens medo da morte?


Tens medo da morte?


- Como poderia temer algo que não conheço?


E se a conhecesse?


- Por que teria medo dela? Suponho que ela possa me causar algum mal.


E se lhe dissesse que não, não há mal algum em conhecê-la. Teria medo ainda assim?



- Eu a temeria se algo de mal me ocorresse em virtude de conhecê-la. Caso contrário, não.

Então, podemos arranjar este encontro. Posso?
- Como não. Mas diga-me, por que o interesse em me sondar os medos antes de conhecê-la? Algo a preocupa?
Não quero ocupar-me de ti depois de conhecê-la. Assim, basta-me saber antecipadamente do que lhe passa pela mente a seu respeito.

- Eu não tenho nada na mente a respeito dela, mas o que se passa na sua mente a meu respeito?

Nada que lhe diga respeito.

- Então, não entendi o porquê das perguntas. Algo a motivou a fazer especulações sobre a minha mente, ou não?

Nada que lhe diga respeito.

- Ora, não se faça de misteriosa comigo, que já nos havemos bem conhecidos de outras vezes. Sei que algo a meu respeito lhe faz pensativa. Já lhe decifrei outras vezes...

Bem, se quiseres tentar a sorte mais uma vez e correr o risco de ser devorado, podemos seguir adiante.

- O que é a morte?

Eu posso lhe devorar caso não lhe responda.

- Por que haveria de não me responder?
Há certas perguntas que não são adequadas a certas respostas.
- Sendo assim inadequado a este resposta, tampouco deve ser adequado a mim saber a resposta de certas perguntas. Não encontro razões para perguntar sobre algo que não me diz nada a respeito.
Ficamos assim: não te respondo o que não me foi perguntado.
- Concordo com a não resposta, desde que não me sobrevenha nada decorrente desta. Continuo a não temer aquilo que não conheço e nem me é dado a conhecer.
Vamos ao nosso encontro?
- Como não. Algo a preocupa, ainda?
Já combinamos de não responder a algo que não foi perguntado.
- Sendo assim, não preciso lhe responder se irei a este encontro. Não me obrigo a nada que não me diga respeito.
Então não vais?
- Aonde devo ir?
Não me diz respeito dizer-lhe algo acerca do que não lhe diz respeito. É uma pergunta que lhe fiz para ser respondida apenas no que lhe diz respeito. Vais?
- Não digo que sim, nem digo que não. No que me diz respeito não há lugar que eu deva conhecer na sua companhia.
Então não quer conhecer a morte?
- Por que deveria? Em nada a morte me diz alguma coisa que signifique algo a meu respeito.
Então teme encontrá-la, pois poderia nesse encontro conhecer algo a seu respeito que lhe faria temê-la?
- Como poderia temer algo que não conheço?
E se a conhecesse?

- Por que teria medo dela? Suponho que ela possa me causar algum mal.

E se lhe dissesse que sim, que há algum mal algum em conhecê-la. Teria medo ainda assim?
- Então, eu lhe diria que não aprecio a sua companhia, pois algo de mal pode me ser causado neste encontro. Nossa conversa terminaria aqui.
Não vejo porque terminar aqui algo que ainda nem começou.
- E nem vai começar. Apenas a possibilidade desse mal já me faz cogitar a possibilidade de aqui não permanecer.
Então, nem cogite nada, apenas acredite em mim. Você estará seguro enquanto me decifrar.
- Para decifra-la, não devo cogitar ?
Não, apenas acredite na possibilidade de decifrar-me, sempre.