Vestigios da Humanidade

Este blog é um convite a reflexão sobre a humanidade, seus vestigios, numa arquelogia viva que busca encontrar o que resta ainda da raça humana, cada vez mais robotizada, dotada de uma razão instrumental e redundante, não essencial, restrita ao mero papel de espectadora do espetaculo que protagoniza.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Main street exile



Main street exile



No men allowed

No cash available

No excuses accepted

Only regrets






On the streets losers
On the floor my empty pockets
On the skys red carpets on fire
Only ashes


But I keep trying
But I was not informed
But my house make me some pennies
Only few cents


Where are the wall street bricks?

Where are my pals on accounts?
Where my pants can be found?
Only on distant streets


Only way as crossing over talks
Only at few people watching the time right screaming
Only where no one knows economics tricks
Only at the main street where belongs exiled human dreams
- - - - -
Tumbling Dice
(LP Exile on Main Street, 1972)

Written By Jagger/Richards

People think I'm crazy, they're always tryin' to waste me
make me burn the candle right down,
but baby, baby, I don't need no jewels in my crown.
'Cause all you wimen is low down gamblers,
cheatin' like I don't know how,
but baby, baby, there's fever in the funk house now.
This low down bitchin' got my poor feet a itchin',
don't you know that duece's stay wild.

Baby, I can't stay, you got to roll me
and call me the tumblin' dice.

Always in a hurry, you never stop to worry,
don't you see the time flashin' by.

Honey, got no money,
I'm all sixes and sevens and nines.
Say now, baby, I'm a rank outsider,
you can be my partner in crime.

But baby, I can't stay,
you got to roll me and call me the tumblin',
roll me and call me the tumblin' dice.

Oh, my, my, my, I'm the lone crap shooter,
playin' the field ev'ry night.

Baby, can't stay,
you got to roll me and call me the tumblin' ,
roll me and call me the tumblin' dice.
Got to roll me. Got to roll me.

quinta-feira, setembro 11, 2008

microvida


Vivemos cada vez mais em nome de nossa insignificância. Cada vez mais atentos ao pequeno, banal, mesquinho e descartável. Nossas vidas se resumem em poucas linhas de currículos “vitae”. Como placas de Petri sob a lente do olhar bitolado do especialista em bactérias que atacam aquele meio de cultura, nossa cultura. Olhamos pelos buracos das fechaduras de nossas adolescências incompletas todos os dias a cada nova intimidade alheia que celebramos em segredo. Fazemos de nossas pequenas descobertas verdadeiros milagres cognitivos em que nossos neurônios celebram sua funcionalidade. Laterais, espaciais, algébricos, cônicos, orgânicos, polimultiadaptados aos novos modismos que surgem nas telas dos celulares 3G e nos televisores HDTV. Cada milímetro de significado nos redime de nossa indiferença, sacrossanta vida digitalizada pelo homem-DNAmodificado a sua imagem e semelhança, revelado a si mesmo nos templos de revelações transcendentes dos laboratórios de pesquisas das multinacionais que se patenteiam contra qualquer ameaça hostil de compra e fusão. Fusão a frio, feita a sangue de baratas que nos impele a aceitar a nossa microvisão das coisas que deglutimos nos jornais, cada vez mais incompletos de verdades, que buscamos nos blogs, nas imagens de câmeras onipresentes dos gadgets em que fomos catequizados para abençoar. Ave, Macintosh!
Deixamos de lado nossas ilusões acerca de nossa sensibilidade humana para evoluirmos em cadeias binárias de códigos simplificados de alguma psique que potencialmente nos resume o que sentimos, pura reação aos anseios do cliente que cada um de nós é em igualdade democrática de condições. Democratas do consumo. Como formigas que partilham um resto de pão deixado ao lado da mesa. Microfagias que nos impulsionam a pensar em células, trabalhando em tarefas polivalentes alheias a sentimentos de individualidade, numa indivisibilidade revelada nos call centers, nos supermercados, nas filas de pedágio, na sala de espera dos hospitais públicos, onde nos amontoamos indistintamente. Indivisos. Aglutinados pelo cimento social de nossos condicionamentos, pelo instinto de saciar nossa fome de nacos de vida, alimentos para o corpo e às almas vazias de significado, cheias de carboidratos e endorfinas, sexualmente estimuladas para se multiplicar em novos hábitos de vida domesticada, vida em cativeiro. É comum ver nos condomínios das grandes cidades os humanos criados em cativeiro. Como se comportam nas áreas de lazer, nas piscinas, nos salões de jogos, nas academias de ginástica, nos estacionamentos, através do volante sobre as quatro rodas, evolução natural das quatro patas. Humanos em conta-gotas no tubo de ensaio do marketing global, sob as lentes de microfilmagem das agencias de segurança particular. Sons de ruminantes que ainda se acreditam humanos quando se deslocam fisicamente aos centros de confinamento para trabalho, para consumo, para sexo, para lazer, para reparos cirúrgicos, para modelagem estética, para maus tratos policiais, para qualquer atividade que modifique sua forma espontânea e nos torne funcionais, racionais, emocionais, à disposição das próximas sequências de tarefas para as quais estamos sendo reprogramados continuamente em nossa formatação para a empregabilidade e a longevidade. E ainda nos fazem acreditar que somos únicos, insubstituíveis formas de vida inteligente em todo o vasto universo, dotados de almas que nos impelem ao mais e ao melhor, rumo a uma contínua melhoria de vida em sociedade, num aprendizado progressivo de civilidade e cujo ápice será a angelitude, a mais pura e sublime forma de sentimentos e pensamentos, quase naturais, quase espontâneos, quase geneticamente determinados, quase preexistentes em nossas formas mais simples de vidas, nossas microaspirações, sob microorganizações, compostas de microempreendedores, os quais são desprovidos de micropatologias, plenos de microvirtudes, realizados em suas microconquistas, redimidos diariamente através de microrevoluções, cujas façanhas nos são contadas através de sua microhistória, com uma sabedoria microeconômica, satisfeitos com sua microvida.


(originalmente publicada em 01-janeiro-2008)