Vestigios da Humanidade

Este blog é um convite a reflexão sobre a humanidade, seus vestigios, numa arquelogia viva que busca encontrar o que resta ainda da raça humana, cada vez mais robotizada, dotada de uma razão instrumental e redundante, não essencial, restrita ao mero papel de espectadora do espetaculo que protagoniza.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Homo sapiens obama

O sonho de Martin Luther King, o sonho dos excluidos norte-americanos, parece enfim ter chegado ao climax com a presidencia do Obama.

É uma utopia,como toda a ideia de nação. Só que não me parece uma utopia “dos excluidos nos EUA” e sim uma utopia “global”, multietnica, com a arvore genealogica do Obama espalhada pelos 4 continentes. Talvez os EUA pleiteiem essa liderança carismatica pentecostal global, mas funciona?

O discurso dele, montado por um rapaz de 27 anos, liga varios mitos da tradição republicana dos EUA, vai de Jefferson ao Novo Testamento, numa ponte entre o passado ancestral dos puritanos fundadores da nação até os dias de hoje, com os empreendedores pentecostais. “Holy ghost” para todos os gostos.

Durante a campanha conversei com muitos colegas que vivem nos EUA e todos tinham algo em comum: não conheciam a trajetoria de Barack, o Obama. Havia Hillary, John Edwards, McCain, Mitt Romney, Rudolph Giuliani e toda a historia recente dos democratas e republicanos, mas Obama não. Como uma nova estrela no ceu, ele surgiu.

Todos os simbolismos possiveis dessa “novidade” foram apropriados pelo marketing de campanha e entre os mais jovens e plugados na web, foi um sucesso. Obama Rocks! Mas, entre aqueles que tinham na memoria os anos Clinton e a era dos Bushes (pai e filho), Obama não se encaixava na lista. Nem Ralph Nader.

Entra em cena Oprah e Hollywood, e Obama se torna Mr. new president, como mr. Kennedy once upon a time. Camelot ressurge, agora negra, agora espalhada pelo globo. JFK rest in peace, pois seu legado está honrado, pois Maria Shriver é Schwarzenegger e Ted Kennedy precisa descansar os poucos anos que ainda lhe restam.

Barack é Harvard, a sede dos CEOs que emulam a conspiração aquariana dentro das multinacionais para nos fazerem até gente decente, sob o signo da qualidade e produtividade, mesmo que após “necessary layoffs”. Obama recebeu seu selo de qualidade e agora pode se misturar com a elite branca e falar pelos pais “fundadores da nação”, aqueles mesmos escravocratas e homicidas de indios que hoje nos vislumbram do seu Eliseu.

Meus amigos nos EUA continuam na mesma, Barack who? Obama, Mr.president, o cara, o “quarterback”, o homem certo na hora H, diante do armageddon que não podemos mais evitar, pois Al Gore nos disse: Global Warming. Eis o sétimo selo cujo lacre foi rompido. Obama, o anjo negro nos resgatará dos Madoffs, dos banqueiros incompetentes, dos saqueadores do futuro. A juros zero. Somente existe o agora, compre agora, se endivide agora, role suas dividas, depois veremos o que se pode fazer.

Obama é FDR, na versão afro-descendente, é o pós-new-deal, o pós-democrata, supra-partidario, que reuniu mais gente num comicio na Alemanha em 2008 do que em seu país. Uma nova era.

Sem guerras?
Sem dividas externas?
Sem comercio de armas?
Sem concessoes aos narcotraficantes?
Sem corruptos na folha de pagamentos?

Mas aí seriamos outros, novos humanos, uma nova raça, enfim, Obamas.

Homo sapiens obama.

Darwin ficaria de olho e tentaria nos mostrar se nossa evolução comporta tal salto para a frente.

Por ora, homo sapiens americanis.