Replicantes sentimentos humanos

Como em Blade Runner, copias humanas
Como em casa, na hora do jantar, na frente da TV

Copiamos os modelos humanos, ainda humanos

Copiamos as falas, as vestes, a cor-da-pele bronzeada
Copulamos os gestos, os gemidos,um prazer mediatizado
Sob medida, taylormade, entre sussurros quase humanos

Como em Blade Runner, copias humanizadas
Como nas ruas, nos carros, nos shoppings, nos escritorios
Copiamos as atitudes, as habilidades, os conhecimentos
Copiamos sons, imagens, passos e ritmos
Copula adiada ao momento oportuno, suave indiscricao
Sob o acaso, quase sem querer, entre atos falhos e auto-afirmacoes

Como em Blade Runner, copias silk-screen
Como no seculo passado, nas tecnicas ancestrais, xilogravuras, copy-desks
Copiamos em serie, nas rotativas agora digitais, velozes contra nossa lentidao
Copiamos o cronometro e nos impusemos prazos, limites, linhas de chegada
Procriacao em morte subita, quase-vida, quase-completa, na prateleira
Sob demanda ao gosto de quem nos consome, nossos familiares, nossos automatos

Como em Blade Runner, copias de carbono e silica
Como nas lojas de brinquedos, sendo criancas ao desejar infinitamente
Copiamos os sonhos um dia sonhados por alguem como se fossem somente nossos
Copiamos as alegrias e as surpresas, o espanto diante do mesmo que por um breve instante
Reproducao em escala ampliada das coisas imateriais, quase-almas, quase-vivas
Sob a probabilidade de coincidirem com aquilo que imediatamente somos

Como em Blade Runner, copias de vida evoluida
Como no futuro distante, na era de Aquarius, na borda da Galaxia
Copiamos a respiracao e a transpiracao das moleculas que explodem no cosmos
Copiamos as particulas inorganicas, as microcelulas de comunhao perfeita
Acasalamos o encontro de formas impossiveis, enfim perfeitas
Sob a bencao de sermos apenas o que somos, sem precisar quaisquer teorias ou justificativas